Sobre o infinito em nós
*Texto escrito originalmente em 28 de abril de 2015
Acreditar-se infinito num mundo de amores que acabam. De banalidades que ficam. De dilemas que te fazem mesquinho. Acreditar-se infinito e se observar ínfimo diante de um mundo que corre não se sabe para onde. De questões cotidianas que expõem o teu pior. De problemas que te apequenam. De relações pueris. Acreditar-se infinito mas se perder num mundo tão grande e tão pequeno. Tão maravilhoso e tão rude.
Que brutalidade colocar o infinito neste corpo mortal. Neste coração frágil. Nesta mente condicionada. Qual seria o sentido de colocar um pedaço do céu num potinho de vidro? Querendo ainda que ele sinta que também é aquela imensidão azul – mesmo ele se vendo ali, tão pequeno. Mesmo ele se sabendo vezes tão opaco que luz nenhuma entra. Mesmo ele se sabendo frágil – e que vai se partir muito (até a hora de partir). Mesmo ele se sabendo tantas vezes impotente diante de uma vida tão bela e tão assustadora.
Como viver o infinito num dia a dia tão minúsculo?
Como amar ao infinito em relações tão egoístas?
Como mergulhar no infinito em piscinas tão rasas?
Em alguns momentos nos tornamos nada mais que um grão de areia. Fragilizados olhando boquiabertos para todas as nossas experiências, que sempre dizem tanto, mas que nestas horas não apontam nada. E racionalizar já não funciona. Nem chorar. Nem ir. Nem ficar.
Mas felizmente a vida continua. E você continua. E se abre mais uma vez para o desconhecido, como se o novo pudesse te tirar do seu velho lugar de sempre. Da sua condição de infinito limitado por valores e crenças herdadas nem se sabe de onde. De infinito tendo que se mover cuidadosamente no tempo e no espaço. E você se joga em qualquer desconhecido que lhe sorri um sorriso amoroso. Que lhe toca a alma. Mesmo que exalando uma confiança que você sabe que não existe em lugar algum. Mesmo que gargalhando uma espontaneidade que lhe encobre todo o rigor. Como se te abraçasse dizendo que tem a resposta – aquela resposta que só você pode ter.
Só que não há lugar onde o infinito caiba sem doer. E o desconhecido sempre manda a conta.
Pagamos a conta e seguimos. Encarando o que aparecer. Nesta luta de encaixar o amor infinito em jogos afetivos tristes e banais. De encolher a paz infinita na corrida enfurecida do mundo. De doutrinar a consciência infinita nas mazelas de nossas mentes perturbadas e sofridas.
Que pelo menos a nossa prece seja a de não esquecermos, mesmo em meio a dor, que somos todos infinito. E que esta certeza seja curativa e nos prepare incansavelmente para não desistirmos – para não desistirmos de simplesmente sermos o infinito de nós mesmos.