Quando a vida pede para a gente parar

“Quando a vida pede para a gente parar, a gente tem que escutar. Do contrário, ela encontrará uma forma de fazer isso por você”. Escutei estas palavras engolindo o choro no pedido de demissão mais difícil da minha vida. Abria mão de um trabalho promissor. Com um salário maior que o atual - e isso há mais de 7 anos. O diretor na minha frente me contava sua longa e triste experiência de não ter escutado o aviso de páre, enquanto eu tentava disfarçar as lágrimas que queriam cair brotadas de um turbilhão de emoções que não tinha ideia de como digerir. Saí dali com a certeza de que uma vida acabava. Não tinha a menor, nenhuma noção de que vida era aquela que viria pela frente. Mas eu tinha que parar e parei. Isso foi no final de 2013.

“Quando a vida pede para a gente parar, a gente tem que escutar”.

Como não me lembrar disso vendo o mundo sendo parado quase como nos filmes americanos? Como não me perguntar há quanto tempo a vida vem nos pedindo para desacelerar, rever padrões, refazer escolhas? Será que alguém acharia uma forma de comparar o tamanho deste “tombo” com o tamanho da desigualdade social que fingimos não enxergar na nossa rotina de classe média ocupada? Será que existe alguma relação entre os números de contaminados com este vírus com o número de outras espécies que são tratadas como se fossem objetos que existem simplesmente para nos servir? Qual será a relação entre a taxa de contágio do vírus com a taxa de crescimento do aquecimento global? Me peguei pensando de onde vem esse preço alto que estamos e ainda vamos pagar por um longo tempo depois que a pandemia passar.

“Quando a vida pede para a gente parar, a gente tem que escutar”.

A gente não escutou.

E como lidar agora com essa parada forçada? Pensando naquele dia emblemático na minha vida e das palavras daquele diretor, lembro de perceber nele um sentimento muito forte enquanto me contava como foram os seus 6 meses forçados sem poder sair da cama: humildade. Bom. Seguindo com a analogia, quem sabe chegou finalmente a hora de nos colocarmos humildemente frente à vida e de começarmos a escutar o que ela nos pede.

(Que a gente aprenda profundamente com essa dura lição)

Em quarentena e com carinho,

Maria