Sobrevivente
Hoje eu contei quantas vezes eu morri nessa vida. Logo pela manhã, deitada no tapete de yoga, no meio da prática, eu parei e contei. Me lembrei de 11 mortes. A primeira eu tinha uns 6 anos e estava na rodoviária de Curitiba. A segunda foi com uns 11 em Telêmaco Borba. Teve uma na Ásia. Uma na África. E a última não deve fazer 2 meses.
Morrer em vida é a coisa mais profunda, mais doída e magnífica que nos acontece como seres humanos. Como seres em evolução.
Tem gente que morre diversas vezes. Tem gente que morre muitas mortes de uma só vez. E tem gente que morre em doses homeopáticas agonizando até o último suspiro.
Nunca conversei com ninguém que não tenha morrido em vida. Mesmo sem ter se dado conta todo mundo teve suas mortes. Todos somos humanos. Todos morremos.
Morrer em vida nos arranca o equilíbrio e às vezes o chão. Morrer em vida nos fragiliza, nos amedronta e às vezes nos obriga a parar. Ou a mover. A agir justamente ao contrário do que esperávamos. E algumas vezes a gente nem sabe porque e quando vê, tá morto.
Eu já morri de morte matada e de morte morrida.
Na morte matada a gente fica culpando alguém ou o mundo, às vezes por muito tempo, até entender que precisávamos morrer. Ou perceber que a vida mudou, que alguém se foi porque precisou ou porque quis. Ou aceitar que tem coisas que simplesmente não vamos conseguir entender com nosso nível de consciência e que o melhor é deixar morrer (e essa morte matada que não se pode entender é muito dolorida). Já a morte morrida vem de dentro: de repente você desperta e o velho eu tá lá, mortinho da Silva.
Eu também já evitei morrer. Me segurei no meu eu antigo por um tempão para disfarçar a morte anunciada. E fiz isso de todas as maneiras que pude. Com boletas. Com shopping. Com trabalho. Com relações desgastadas. Teve uma vez que eu já tava prá lá de moribunda e corri tão longe que caí morta na Índia. Aliás, umas das mortes mais significativas.
É preciso morrer em vida para que o novo nasça ainda em vida!
Nós, ocidentais, associamos a morte a algo ruim e eu confesso que às vezes também penso assim e me dá medo. Mas morrer é parte do ciclo da natureza e da vida. Morrer é encerrar um ciclo. Uma fase, uma ilusão ou uma forma de ser. Morrer em vida é a oportunidade de transcender-se. De andar uma casa (ou 10) no tabuleiro da sua própria evolução.
Morrer em vida e morrer de vez são coisas inevitáveis. A dor, creio que também. Mas podemos tentar minimizar o sofrimento olhando para cada morte como um passo de superação de nossas deficiências e crenças. De escolhas ruins sejam elas conscientes ou inconscientes. De visões de mundo distorcidas, pequenas. Morrer em vida é mover-se. É sair do seu velho lugar. Da sua antiga condição. E como diz meu cantor preferido: somos uma espécie em viagem.
Permita-se morrer.
Abrace suas mortes.
Morrer dói, mas faz bem à vida!
Com carinho.
Maria